O gigante da floresta: A maior árvore da Amazônia brasileira

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Descoberta no Pará, a imponente angelim vermelho de 88,5 metros de altura é um tesouro natural que desafia o tempo e reforça a urgência da conservação

Genival Cardoso

Fotografias: Havita Rigamonti / Ideflor-Bio

Um Colosso Escondido no Coração da Amazônia

No extremo oeste do Pará, dentro da Floresta Estadual do Paru (Flota do Paru), um ser vivo de proporções épicas resiste há séculos: um angelim vermelho (Dinizia excelsa) com 88,5 metros de altura — equivalente a um prédio de 30 andares — e 3,15 metros de diâmetro. Esta árvore monumental, batizada como Jari Paru 2, é a maior já registrada na Amazônia brasileira e a quarta maior do mundo, superada apenas por sequoias norte-americanas e um eucalipto australiano.

A descoberta, inicialmente mapeada por satélite em 2019, só foi confirmada em setembro de 2022, após uma expedição científica liderada pelas universidades UFVJM (MG) e IFAP (AP). A jornada exigiu 200 km de viagem de barco pelos rios da região do Médio Jari e mais 30 km de caminhada na mata fechada, uma das áreas mais remotas da Amazônia.

Um Santuário de Gigantes

A Flota do Paru, com 3,6 milhões de hectares (quase o tamanho da Bélgica), abriga não apenas esse colosso, mas outras 38 angelins de porte excepcional — duas delas também ultrapassando 80 metros. Quase 96% de sua área é coberta por floresta primária intocada, um refúgio crítico para biodiversidade e estoque de carbono.

— “Essas árvores são como catedrais naturais. Sua existência comprova que a Amazônia ainda guarda segredos inimagináveis”, afirma Eric Bastos Gorgens, coordenador da expedição.

Tecnologia e Tradição na Preservação

Localizar o angelim gigante exigiu rastreadores por satélite (Garmin/SPOT) e um telefone Iridium para comunicação em área sem sinal. O gerente da Flota, Ronaldison Farias, destacou o papel do Ideflor-Bio na gestão sustentável da região:

— “Aqui, combinamos monitoramento via drones e LiDAR com o conhecimento tradicional das comunidades ribeirinhas. É um modelo que evita o desmatamento e valoriza a floresta em pé”.

A tecnologia LiDAR, usada em sobrevoos pelo INPE entre 2016 e 2018, revelou sete aglomerados de árvores acima de 80 metros na região, todas próximas ao Rio Jari.

Ameaças e a Batalha pela Conservação

Apesar da proteção legal, a Flota do Paru sofre pressão de grilagem, extração ilegal de madeira e mineração clandestina. Socorro Almeida, diretora de Gestão de Unidades de Conservação do Ideflor-Bio, alerta:

— “Sem fiscalização rigorosa, esses gigantes podem desaparecer antes mesmo de serem estudados”.

O Pará responde com operações integradas e projetos como o “Floresta de Valor”, que incentiva o manejo sustentável de produtos não madeireiros (castanhas, óleos vegetais) e o turismo ecológico.

Por Que o Angelim Vermelho Importa?

Armazém de Carbono: Uma única árvore sequestra toneladas de CO₂, ajudando a frear as mudanças climáticas.

Biodiversidade: Sua copa abriga espécies raras de aves, primatas e insetos.

Cultura: Para ribeirinhos e indígenas, é símbolo de resistência e fonte de recursos medicinais.

O Futuro: Entre a Ciência e a Urgência

Enquanto pesquisadores planejam novas expedições para estudar os solos e microrganismos associados ao angelim, Gracialda Ferreira, presidente do Ideflor-Bio, reforça:

— “Precisamos de políticas públicas que transformem a floresta em aliada da economia, não vítima dela”.

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