Paloma Oliveto
Um medicamento para pacientes de Alzheimer em fase inicial retardou em 35% o declínio cognitivo e resultou em 40% menos perda da capacidade de realizar atividades da vida diária em 18 meses. O anticorpo monoclonal donanemab, do laboratório Eli Lily, soma-se ao lecanemab, da fabricantes Biogen e Esai, no arsenal de drogas que atuam diretamente sobre as causas da doença, e não apenas nos sintomas. Porém, foram registrados efeitos colaterais graves, incluindo a morte de três pessoas. Especialistas comemoraram os resultados, mas observam que será preciso dosar o custo-benefício do tratamento.
O anúncio foi feito, na quarta-feira (3), pelo Eli Lily em um comunicado para investidores. Segundo a farmacêutica, em breve os resultados do estudo de fase III — o último antes da comercialização — serão divulgados em um artigo científico. O laboratório também informou que dará início aos pedidos de regulamentação nas agências globais, como a Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos.
O donanemab é um anticorpo que atua sobre uma das causas mais estudadas do Alzheimer: o acúmulo de proteína beta-amiloide. Quando há excesso na produção da substância, formam-se placas no cérebro, que destróem os neurônios. O estudo de 18 meses com 1.736 pessoas de 60 a 85 anos mostrou que o medicamento promoveu uma limpeza das placas, o que foi refletido no retardo do declínio cognitivo.
Em um ano, 47% dos pacientes não apresentaram sinais de deterioração neurocognitiva, medida por um teste padrão, quando comparados aos que tomaram placebo. Além disso, em 18 meses, as pessoas em tratamento tiveram 40% menos redução na capacidade de realizar atividades diárias, também em relação aos do grupo de controle. Por fim, com o donanemab, houve um risco 39% menor de progredir para o próximo estágio da doença. O medicamento, assim como o lecanemab, porém, não regride danos já causados.
Também como ocorreu na droga da Bigen/Esai, um efeito colateral caracterizado por inchaço temporário no cérebro (Aria-E) ou micro-hemorragias no órgão (Aria-H), foi observado em 24% e 31,4% ds pacientes, respectivamente. No grupo placebo, os percentuais foram de 6,1% e 13,%. Segundo o comunicado da fabricante, “a maioria dos casos de Aria foram leves ou moderados”. Porém, a Lily reportou a morte de três pessoas sob o regime do medicamento, associada a esse efeito.
“É uma ótima notícia ter sucesso com um segundo medicamento anti-amiloide para Alzheimer”, comemora John Hardy, professor de neurociência do University College London, no Reino Unido, que não participou do estudo. “Ainda há muito trabalho a fazer se esses medicamentos forem aprovados como deveriam. Do ponto de vista prático, precisamos organizar como administrá-los aos pacientes com segurança e, do ponto de vista da pesquisa, precisamos entender por que eles retardam a doença, mas não – pelo menos ainda – parecem interromper a progressão.”
Em nota, a Associação de Alzheimer dos Estados Unidos comemorou os resultados. “A Alzheimer’s Association recebe com entusiasmo os dados robustos e positivos (…). Esses são significativos e reforçam ainda mais a evidência científica e o benefício pessoal que esses tipos de tratamentos podem ter quando as pessoas podem acessá-los”, disse Joanne Pike, presidente da organização.
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