Aldirene Gama
A árvore gigante da Amazônia brasileira, a quarta maior do mundo, está em território paraense na região da Calha Norte. Trata-se de um Angelim Vermelho com 88,5 metros de altura e 3,15 m de diâmetro, variando de 400 a 600 anos de existência, e foi encontrado na Unidade de Conservação Estadual de Uso Sustentável Floresta Estadual do Paru (Flota do Paru). Na faixa do terreno da maior árvore registrada, foram encontradas outras 38 da mesma espécie – duas com mais de 80 m.
A Flota ocupa uma área de mais de 3,6 milhões de hectares, abrangendo os municípios de Almeirim, Monte Alegre, Alenquer e Óbidos. Abriga uma rica diversidade de fauna e flora, além da exuberante paisagem do bioma Amazônia. Quase 96% de sua área são cobertos por florestas bem conservadas, um verdadeiro santuário de Angelins gigantes.
O Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio) é responsável pela gestão da Flota do Paru, uma das 27 Unidades de Conservação (UCs) estaduais. A Flota é uma Unidade de Conservação de posse e domínio público, não abrigando propriedade particular, a não ser para uso sustentável.
Gestão – Na área, o Instituto investe em projetos e ações de conscientização ambiental e fortalecimento do uso sustentável dos recursos naturais pelos povos da floresta. As ações são realizadas por meio da Diretoria de Gestão e Monitoramento de Unidades de Conservação Estaduais (DGMUC), que estabelece ferramentas importantes de gestão, como elaboração e revisão dos Planos de Manejo das UCs, utilizando metodologia participativa de todos os setores que representam a sociedade civil e órgãos públicos, representados nos Conselhos Gestores.
O Santuário de Árvores Gigantes reforça a importância da criação de áreas protegidas por meio de legislação ambiental específica, a fim de proteger os recursos naturais de relevância física, biológica e cultural, garantindo o equilíbrio dos ecossistemas, as relações entre esses elementos e a conservação de ambientes naturais para futuras gerações.
Expedição – Um grupo de 20 pessoas chegou até a maior árvore da Amazônia brasileira em setembro de 2022. O encontro com a espécie gigante, mapeada em 2019 via satélite, ocorreu após um planejamento minucioso.
Denominada Jari Paru 2, a expedição foi realizada entre os dias 11 e 21 de setembro, com autorização da Gerência da Flota e da DGMUC. Partindo da cidade de Laranjal do Jari, no estado do Amapá, a equipe coordenada pelos professores Eric Bastos Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM-MG), e Diego Armando Silva da Silva, do Instituto Federal do Amapá (Ifap), seguiu para a região do Médio Jari, por aproximadamente 200 km pelos rios da região, e mais 30 km de caminhada no interior da mata fechada. A região é considerada uma das mais isoladas da Floresta Amazônica.
Para auxiliar na localização das espécies e garantir a segurança do grupo, os pesquisadores usaram equipamentos rastreados via satélite (Spot e Garmin) e um telefone por satélite (Iridium). O gerente da Flota do Paru, Ronaldison Farias, acompanhou a expedição, juntamente com o fotógrafo e cinegrafista de natureza Havita Rigamonti, que documentou toda a viagem, formando um banco de imagens e registros para o Ideflor-Bio, em parceria com o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).
Segundo os coordenadores, a pesquisa teve como principais objetivos a identificação da maior árvore brasileira e a coleta de dados de campo. O angelim vermelho pertence à família Fabaceae, subfamília das Mimosoideae, nativa da América do Sul, que inclui duas espécies: uma da Amazônia e outra da Mata Atlântica.
Estudo – As espécies gigantes foram localizadas durante pesquisa realizada entre 2016 e 2018, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com a UFVJM. O estudo, destinado a quantificar o estoque de carbono associado à biomassa florestal, usou o LiDAR aerotransportado, a bordo de uma aeronave Cessna, para obter informações precisas da altura da vegetação do bioma amazônico e suas características. Durante o sobrevoo, sete faixas de terreno apresentaram espécies acima de 80 metros. Dessas, seis foram localizados na região do Rio Jari, entre os estados do Pará e Amapá.
Pela localização geográfica e pelo tamanho do território ocupado por florestas públicas protegidas, a pressão antrópica por meio de ocupação irregular tem se tornado um desafio na gestão destes espaços.
Segundo a diretora da DGMUC, Socorro Almeida, o processo de ocupação do solo e exploração dos recursos naturais pelo homem ocorre de forma acelerada e irregular. O Estado investe em tecnologia para monitorar as áreas protegidas e intensificar a fiscalização para coibir ilícitos ambientais.
Sustentabilidade – Outra atividade promovida pelo Ideflor-Bio na gestão destas florestas é o fomento à produção florestal madeireira e não madeireira de forma sustentável. “A árvore é o elemento da floresta que fornece mais de 90% de toda a madeira para fabricação de inúmeros produtos essenciais e presentes no dia a dia, que vão desde os mais evidentes, como papel, móveis e pisos laminados, até produtos de beleza, medicamentos, alimentos e roupas, passando pelo carvão vegetal e embalagens”, destacou a presidente em exercício do Ideflor-Bio, Gracialda Ferreira.
Ela reforçou que o uso da floresta, quando realizado de forma planejada pelo órgão gestor, contribui para a sustentabilidade. “A floresta é um celeiro de oportunidades. Assim como exploramos o potencial madeireiro de forma adequada, também autorizamos e incentivamos o uso dos produtos não madeireiros (castanha-do-pará e outras castanhas e sementes, óleos, essências etc.), pois a floresta é um patrimônio de todos, e a gestão adequada do Ideflor-Bio visa garantir sua existência para as presentes e futuras gerações”, disse a gestora.
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